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Resultado eleitoral é importante para toda a América Latina

By Eric Farnsworth

As eleições presidenciais do Equador são importantes para a região se houver uma reforma política e econômica mais ambiciosa durante um novo mandato do Presidente Rafael Correa, escreve Eric Farnsworth para O Estadão.

Hoje, os equatorianos irão às urnas para eleger um novo presidente e membros do Parlamento, mas o resultado é praticamente certo: Rafael Correa deve ser reeleito facilmente. Ele disputa a eleição com mais sete candidatos, mas nenhum deles, incluindo o ex-presidente Lucio Gutierrez, tem o apoio popular necessário para derrotá-lo, especialmente numa eleição em que múltiplos candidatos dividirão o voto da oposição.

A popularidade de Correa não surpreende. O país tem desfrutado de um crescimento econômico relativamente vigoroso desde a crise econômica global, em 2009, animado pelos altos preços da energia e pelo envolvimento robusto dos chineses na economia equatoriana, que cresceu 6,5%, em 2011, e chegou perto dos 4%, no ano passado. O governo Corea aplicou esses recursos adicionais em programas sociais, infraestrutura e saúde direcionados para os cidadãos de baixa renda, que são a maioria do seu eleitorado. A curto prazo, esses gastos consolidaram sua posição política e contribuem muito para aumentar sua popularidade à medida que a eleição se aproxima.

No longo prazo, contudo, os atos de generosidade podem se tornar insustentáveis. As projeções para o crescimento do país em 2013 são consideravelmente menores em relação aos anos anteriores, em torno de 2,5%. E o governo depende dos bilhões de dólares de empréstimos concedidos pela China para cobrir seus déficits orçamentários, em parte porque, com a moratória declarada em 2008, o Equador é considerado um país arriscado em termos de concessão de crédito.

Geralmente, os empréstimos chineses são assegurados por meio de entregas garantidas de petróleo e, assim, as entregas futuras do bruto já estão comprometidas, ao passo que os recursos pagos por elas já foi gasto antecipadamente no consumo interno e não em investimentos de longo prazo. Ao mesmo tempo, à medida que o crescimento desacelera, ficará mais difícil criar receitas.

Normalmente, um déficit como esse poderia ser compensado com investimentos domésticos e estrangeiros. De fato, outros países da América Latina, como Brasil, Chile, Colômbia e Peru, têm recebido grandes investimentos externos. No entanto, o Equador não atraiu o nível de investimento externo que seria esperado em razão de vários fatores, incluindo um clima hostil para os investimentos e uma legislação fácil de ser burlada.

Até o momento, tais deficiências foram mascaradas pelos robustos preços da energia e por uma forte demanda chinesa. Em algum momento, porém, as pressões sobre a economia crescerão. No entanto, um novo mandato, juntamente com um Parlamento e um Judiciário submissos, oferecerão uma base tentadora para o presidente avançar com seu projeto nacional de transformar o Equador - como Hugo Chávez na Venezuela - em um modelo de socialismo do século 21. Em vez de diminuir o ritmo, Correa poderá duplicá-lo, com implicações graves para a saúde econômica do país.

Ao mesmo tempo, após as eleições, Correa deve tentar se projetar mais no plano internacional para suplantar Chávez como líder nominal da Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), uma vez que a saúde do venezuelano o impede de retornar a Caracas e se reafirmar como presidente do país. Na verdade, Correa já se envolveu agressivamente em assuntos de grande destaque, como a disputa envolvendo o WikiLeaks, ao oferecer asilo político para o fundador do site, Julian Assange, numa campanha irônica para apoiar uma imprensa global livre, embora muitos o acusem de atacar a liberdade de imprensa no próprio país.

Antes da Cúpula das Américas, em abril de 2012, na Colômbia, Correa tentou organizar um boicote de líderes para exigir a participação cubana e não participou da reunião, que foi realizada de qualquer maneira. Mais recentemente, surgiram preocupações de que ele estaria trabalhando para debilitar as proteções de direitos humanos dentro da Organização dos Estados Americanos e da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Assim, o resultado das eleições é importante para o Equador e para a região. Tanto o potencial para uma desaceleração econômica, que poderá afetar outros países, como a perspectiva de que um novo mandato crie demandas nacionalistas e uma política externa mais ambiciosa, significam que o resultado deve ser observado com atenção. / Tradução de Terezinha Martino

*Eric Farnsworth é vice-presidente e chefe do escritório de Washington do Americas Society/Council of the Americas.

 

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